Gratidão.

Verão, rede, sombra, brisa e dedos tortos.

Passar alguns dias na fazenda longe da internet, do celular e do convívio de qualquer pessoa que não integrasse minha família e, ao mesmo tempo, tendo companhia da vegetação, de pessoas queridas, animais, do ar puro, a visão de serras e do céu sem fumaça me fez refletir sobre diversas coisas.

Para algumas pessoas isso é chamado de férias, prefiro chamar esse momento de encontro com meu interior.

Descobri que passei a maior parte dos meus dezesseis anos de existência reclamando. Reclamando do calor, reclamando da escola, reclamando do meu corpo, reclamando do cotidiano, reclamando de lugares e situações, reclamando de pessoas, reclamando de barulho, reclamando da lentidão, reclamando de mim mesma. Eu me tornei uma idosa no corpo de uma adolescente.

Nunca me sentia satisfeita com nada e nas raras vezes que me sentia, era capaz de encontrar algo que me desagradasse, por menor que fosse esse algo. Nunca me contentei com o que estava à minha frente, eu queria sempre mais,

Poucas foram as vezes que parei para observar e valorizar os pequenos detalhes. Sabe aquela borboleta linda que pousa em seu ombro? Eu nunca fui capaz de olhá-la porquê estava ocupada demais pensando no pássaro que estava voando alto e no quanto queria tê-lo em minhas mãos.

Durante o tempo que eu me encontrava dentro de mim percebi que tenho mais razões para ser grata do que qualquer outra coisa no mundo.

Sou grata por tudo que meu pai fez e faz por mim, como: ser meu paitorista e sempre me levar e buscar nos lugares, ser meu paissagista e me auxiliar quando estou com dor, me proteger sempre quando brigam comigo, ter passado minha infância todinha ao meu lado, me proporcionar viagens legais ao seu lado, ser pai e amigo. Sou grata por ter um pai que me apoia em tudo, mesmo já tendo a certeza que no final nada dará certo.

Sou grata por integrar duas famílias que, apesar dos pesares, são incríveis e têm suas raízes cravadas na Europa e aqui, no Brasil. Por carregar comigo e em mim as sardas do vô Arthur, o cabelo castanho e liso (que agora é ruivo e modelado, porquê as pessoas mudam, né) da vó Luíza, o bocão e o nariz do papai e a falta de melanina da mamãe, a visão de piada em tudo do vô Auspicio e a mania de organizar tudo que é meu da vó Luzi. Por ter um nome de origem francesa, mas por falar português. Por amar comida japonesa, mas nunca dispensar o arroz (com sal e sem ser "unidos venceremos), por favor). Por amar música internacional, mas ter MPB como ritmo favorito.

Sou grata por não conseguir me apegar (talvez isso até venha a ser um defeito, quem é que sabe), por ter comigo todas as pessoas que queria ter, por conseguir ajudar o próximo sempre que me é possível e por ter em mim o desejo de adotar uma criança maiorzinha (de preferência um menino, pois são os menos procurados). Sou grata por enxergar um pouquinho de coisa boa sempre que o tempo tá fechando, por não conseguir preocupar os outros com meus problemas (talvez isso também venha a ser um defeito).

Em relação a ser focada e tentar não desistir antes de conseguir (embora eu fique entediada e abandone o quê estou fazendo pra fazer algo mais legal), também sou grata. Por ter tido a chance de escolher o que é melhor pra mim, também sou.

Sou grata quando percebem que estou desmoronando e permitem que eu me apoie em seus ombros, quando me faço de forte para fortalecer alguém e quando minhas palavras tornam o dia de alguém mais feliz, aliás, você já desejou que essa noite seja boa para alguém hoje?

Não sou grata à mãe natureza, ao destino, a algum ser superior ou coisa do tipo. Aliás, não acredito em nada disso (embora fale brincando coisas relacionadas entre amigos).

Sou grata a mim mesma. Se não fosse a Danielle de sei lá quantos anos atrás, talvez nada tivesse acontecido. Não consigo supor as situações que eu estaria vivendo, mas tenho certeza que elas não chegariam nem perto das oportunidades que tive.

Meu maior medo era não viver e ficar sempre perto da sombra da Existência, mas hoje posso dizer: sou grata por estar viva.

2 comentários

  1. Oi, gostei do seu texto! Eu sou bem reclamona, âs vezes xD. E vira e meche eu me sinto velha num corpo não tão velho assim!
    Parabéns pelo blog!
    Bjks

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